Da China ao Brasil: desafios da indústria e do varejo no setor de bens de consumo

Criado em 6 de maio min(s) de leitura

Última atualização em: 24 de janeiro de 2023, às 2:22 pm

       
           

Os desafios da indústria e do varejo se tornaram ainda maiores após o cenário de pandemia que ainda afeta milhões de pessoas e centenas de países em todo o mundo. A economia foi diretamente impactada e as empresas precisaram se reinventar, buscar soluções ou lidar com situações nunca antes desenhadas. 

Annette de Castro é CEO da Mallory no Brasil, multinacional espanhola que trabalha com a fabricação de eletroportáteis que tem boa parte dos seus insumos vindos da China, onde surgiram os primeiros casos da COVID-19. Inclusive tem funcionários no país asiático. 

A empresa sofre com os efeitos da pandemia desde janeiro, antes mesmo das ações preventivas no Brasil, principalmente com o receio de desabastecimento por causa da situação na China. 

Estava em fase de crescimento, com aumento de 30% em janeiro e fevereiro, em relação ao ano anterior, e em março (até antes do isolamento social no Brasil)  havia superado os números gerais de 2019. Porém, tudo mudou. 

Apesar da mudança de planos involuntária, uma consequência da pandemia, Annette afirma que passou a hora de ficar assustado ou só observando. “É preciso reagir e agir de acordo com o novo cenário”. Ela precisou tomar medidas difíceis para manter a operação e se prepara para reabrir a produção fabril, parada desde março. 

Com toda essa experiência, uma das palestrantes mais aplaudidas do AEx 2018 (atual Involves Experience), ela conversou com a gente sobre como tem enfrentado os desafios da indústria e varejo nesse período e as ações práticas que tem tomado para se reinventar.

Confira os principais pontos da entrevista que Annette concedeu ao Involves Club que você poderá acompanhar a seguir:

  • Relações com a China e receio de desabastecimento
  • Do crescimento para a retração
  • Complexidade do negócio e adaptações 
  • Negociações com fornecedores e PDVs, lojas fechadas
  • Novas estratégias e o tempo de enfrentamento

DESAFIOS DA INDÚSTRIA E DO VAREJO EM UM CENÁRIO DE CRISE

“‘Nosso corona’ começou em janeiro, apesar de ainda não termos sido afetados com força naquele período. Mas no final de janeiro ficou muito evidente que o Ano-Novo Chinês não terminaria, ia emendar na pandemia do coronavírus”, relembrou Annette sobre o início de toda a crise. 

Ela relata que logo no primeiro mês de 2020 precisou montar um comitê de crise. Naquele mês, a preocupação era a possibilidade da falta de produtos e a perspectiva sobre como conseguiriam suprir o mês de fevereiro com os funcionários da China em isolamento social. 

“Acompanhamos tudo de perto, mas parecia uma realidade longe. Até me culpo um pouco por não ter pensado que isso poderia chegar aqui da mesma forma, mas chegou e muito de repente. Em uma segunda-feira começamos a avaliar o que íamos fazer e na sexta recebemos o decreto do governo do Ceará. Em Fortaleza (onde fica a uma parte da empresa) paramos no dia 22 de março”, conta. 

Diante das recomendações e decretos, a diretoria da Mallory antecipou férias coletivas e precisou adiantar as férias do ano seguinte. Annette destaca que foi uma decisão difícil e triste, mas necessária para continuar.  Apesar da produção parada, as entregas continuaram. Isso aconteceu porque a empresa estava estocando produtos por causa do receio de ruptura na distribuição relacionada aos problemas iniciados em janeiro na China.

Como a empresa atua com eletroportáteis – bens de consumo, considerados não-essenciais nesse momento – a maior parte dos seus PDVs, parceiros do varejo, estavam fechados. A atuação e execução ficaram mais focadas no canal supermercado e online. 

NEGOCIAÇÕES E OPORTUNIDADE DE REVER O NEGÓCIO

A complexidade do negócio, que trabalha com commodities, tem um ciclo financeiro longo e depende da China. Por si só, isso já é um desafio. Imagine, além disso, ter que lidar com a fábrica parada por quase dois meses e o restante da empresa atuando em home office. Era preciso rever cada ponto deste ciclo e se adaptar.

Uma das preocupações iniciais de Annette era com os fornecedores. “Eles são muito importantes para o relacionamento. É duro ter que chegar para negociação em um momento em que todo mundo precisa estar junto. A gente deixou de vender e passou a negociar prazo”, lembra.

No primeiro momento a equipe ficou focada em cuidar da saúde das pessoas e do caixa. Grandes varejistas sem ecommerce que ainda recebiam por carnês passaram por dificuldades porque não conseguiam cobrar nem vender naquele período. Fato que desestruturou toda a cadeia. 

Diante disso, a executiva disse que teve o primeiro reforço de aprendizado: humildade. Assumir que vai errar, mas refletir sobre isso e se preparar para algo novo e diferente.  Ela  diz que refletiu sobre como “o mundo mudou e os níveis de crescimento e metas desapareceram“.

“Precisamos enfrentar nossas fraquezas e assumir que não sabemos tudo, que temos que reaprender. Vimos empresas que nunca tinham feito venda online, empreendedores que pensavam que não conseguiriam já entrando no mercado digital, fazendo primeiros pedidos. É o momento de experimentar o desconhecido, caminhos novos”, afirma. 

AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA RETOMADA DO CRESCIMENTO

Entre as propostas do que fazer para continuar fomentando as vendas, a equipe da Mallory preparou uma ação solidária. Além do frete grátis, que foi uma proposta bastante comum no varejo de forma geral, a empresa decidiu fazer diferente e doar um ventilador a cada equipamento comprado. Com todo apelo a respeito da saúde nesse período, com relação a  manter ambientes arejados, a estratégia trouxe resultados. Não só nas vendas, como de valor para a marca. 

A campanha entrega solidária abraça esse papel de solidariedade e colaboratividade junto com shopper-consumidor. Os ventiladores doados irão para comunidades locais, centros terapêuticos e casas lares do Ceará, além de um instituto que trabalha com educação em São Paulo. Foi uma forma de oferecer empatia com o momento aliado à necessidade de gerar mais sell-out

Annette afirma que agora, passados esses meses de experiência, é tempo de enfrentamento e de olhar para o futuro. “A gente precisa usar o momento para corrigir o que for preciso e aprimorar pontos fortes. Ganhamos velocidade nas transformações, na comunicação, isso é um ponto positivo que precisamos aproveitar”, diz. 

Para este segundo momento, ela reforça que não podemos ficar apegados ao que era, sobre como era. A proposta é seguir a rotina olhando em frente. Para ela, que sempre gostou de lidar com pessoas e agora assumiu também esse braço da gestão na Mallory, não tem como continuar sem equilibrar esse dois pilares: pessoas e processos. 

“É o que eu estou fazendo em cada área que estou trabalhando. Não olho pra rotina de hoje, mas para o que a gente vai ser amanhã, em produtos, em processos da empresa, em competências pessoais que serão úteis. Isso é a função do líder: preparar o ambiente da sua empresa para o amanhã, motivar equipe”.  

Apesar dessas projeções, ela reforça que não tem a pretensão de definir o futuro, mas quer estudar sobre como lidar com as mudanças e se adaptar caso hajam novas: “Ficaria surpresa se alguém souber como vai ser amanhã. Mesmo as empresas ligadas a saúde e alimentos estão com essa preocupação. Precisamos gerar um ambiente de tranquilidade, mas de urgência nas pessoas”. 

Annette acredita que cada empresa – e cada pessoa por meio do seu trabalho – pode mudar e melhorar o seu negócio. “Não vai ser um momento fácil. É muito complicado, muito complexo, financeiramente vamos sofrer muito, vamos viver incômodos muito maiores do que estávamos acostumados. Mas precisamos buscar essas competências. Precisamos desse ambiente em volta da gente pra incentivar e arriscar, caso contrário, não vamos conseguir aproveitar as oportunidades desse momento”, indica.

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